quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Reverência aos Mestres.


  Nos últimos dias voltei a me dedicar a uma atividade que desde pequeno sempre me deu muito prazer, as artes marciais. Tive sorte de encontrar um bom mestre que ainda valoriza a arte marcial em todos os seus aspectos, tanto filosófico quanto técnico, e, conseqüentemente, mantém a tradição daquilo que aprendeu. Estranhamente, junto com tudo isso uma coisa retorna a minha mente, os meus primeiros momentos de contato nas artes marciais. Uma sensação de encontro comigo mesmo, é uma felicidade indescritível como quando retornamos para casa depois de uma longa viagem. Volta também a minha mente a lembrança da foto de Jigoro Kano na parede do meu primeiro dojo, lembro que o olhar dele, tranqüilo me fazia sempre uma espécie de provocação, sobre o que eu quero e até onde eu posso ir. Ele me observava silenciosamente e de certa forma me deixava inquieto. Na verdade nunca me senti digno de estar na presença dele e me sentia até envergonhado quando brigava na escola e entrava no tatame para cumprimentá-lo.
  Hoje, alguns anos depois de ter me afastado do caminho das artes marciais me sinto mais uma vez envergonhado pela forma como venho me tratando, abusando do meu corpo e enfraquecendo minha mente em troca de alguns prazeres passageiros do dia-a-dia. A imagem do rosto de Jigoro Kano volta a me assombrar, sei que agora não sou uma criança e que tenho consciência das minhas falhas e limitações, chegou o momento de encará-lo de volta, com o respeito e a honra que ele merece. Assim como são as artes marciais é a vida, nada é por acaso ou vem facilmente, é preciso haver esforço e dedicação. Para isso, explorar os limites da sua mente e do seu corpo são essenciais para garantir o sucesso em tudo que fazemos ou planejamos fazer.
  Venho através dessa carta agradecer aos meus mestres pela oportunidade de saber mais sobre mim, de reconhecer o valor da humildade, disciplina, do respeito e da serenidade. Essa é uma oportunidade que nem todo o praticante vem percebendo hoje em dia e acaba transformando os benefícios inerentes da sua prática em um único objetivo, a luta. Hoje em dia as artes marciais são alvo de duras críticas sobre a conduta dos seus “mal praticantes”, que ainda se trata de uma minoria dentro do nosso universo, mas que vem contribuindo de forma negativa para a divulgação das artes marciais e acabam prostituindo nossos estilos, que por sua vez se tornam mera mercadoria de consumo.

Por: Rubem de Souza A. Neto

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