quinta-feira, 19 de julho de 2012

O mangue da Torre.


"Entre os muitos fantasmas que assombram o Capibaribe, um provoca arrepios nos moradores do bairro da Torre - mais especificamente nos que residem em edifícios próximos aos manguezais que existem nas margens daquele trecho do rio mais importante da capital pernambucana. Eles deram o nome de "Pai do Mangue" ao horripilante fantasma.

O lugar é bem conhecido dos recifenses. Na margem do rio que fica do lado da Torre, há um ponto onde barqueiros fazem a travessia das pessoas que precisam chegar ao outro lado, no cais do bairro da Jaqueira. Isso durante o dia. Quando cai a noite, o local fica deserto e sombrio. É aí que vizinhança percebe a presença sinistra do Pai do Mangue.

Dizem que ele se faz notar com uma risada estridente e cavernosa, "como se fosse a gargalhada de uma bruxa, que vai levar sua alma", revelam alguns. Não se pode definir a origem do som misterioso - ecoa como se viesse do meio dos arbustos que crescem por alí. E o fenômeno se repete sempre por volta da meia-noite.

Nessa hora, quase todos os moradores da área se escondem em seus apartamentos, assustados com o ruído sobrenatural. Uns poucos já se atreveram a tentar descobrir de onde vem a tal gargalha. Na maioria das vezes, nada viram e voltaram apavorados.

Mas um grupo de rapazes, que ousou fazer a investigação na noite de uma sexta-feira 13, testemunhou a aparição de uma estranha figura por entre emaranhado de galhos e folhas típico da vegetação rasteira do mangue. Segundo eles, era um senhor negro, de cabelos brancos e roupas claras - uma figura que lembrava um pescador. A expressão no rosto era de poucos amigos. Durante alguns segundos, ele chegou a perseguir a turma, para depois desaparecer na escuridão, como que por encanto.

Quem seria o Pai do Mangue? Os moradores daquelas bandas já desistiram de querer desvendar esse mistério e procuram conviver em paz com o tal fantasma."

terça-feira, 17 de julho de 2012

A hora do chá.


O que é o tempo, se não uma interpretação esdruxulista da manipulação humana. Nós, desde que acordamos até quando vamos dormir somos bombardeados pela retórica desgastante do tempo. Mas o que seria do homem se não houvesse tempo, tempo para comer, tempo para dormir e tempo para trabalhar? Você sabe que é "hora" de se alimentar quando sente fome, ao mesmo tempo, quando sentimos sono sabemos que é hora de dormir.Para mim o tempo é o inverso disso, para mim o tempo é a hora de acordar, um retorno para realidade, uma ancora imaginária.

Refletir sobre o tempo é fatalmente um desperdício de tempo, pois se concluísse-mos que o tempo deve existir, possivelmente perceberíamos frustrados que o tempo que perdemos para descobrir o obvio poderia ter sido empregado em outras tarefas. E, em contra partida se reconhecêssemos a totalmente desnecessária existência temporal desse tempo, ficaríamos angustiados com aquilo que perdemos. 

O que é o tempo então, se não uma reflexão introspectiva para interpretação da nossa realidade pobre e limitada. Tempo é o nome que se dá ao destino e a total inexistência desse mesmo destino, tempo é a dúvida irrefutável e a certeza irrefreável. O tempo, bem, o tempo é o calafrio da barriga, a angustia, o medo, a pressa, a paciência, o tempo é a peripécia e tolerância. O tempo é a morte e a vida, o tempo é o sustento da  solidão da mente, o tempo é o vácuo deixado pelo ente ausente, o tempo é a chuva, é a seca, é a sorte e o azar. O tempo é uma eternidade de segundos, enquanto um homem luta contra o afogamento do silencioso mar, o tempo é o tudo e o nada, visto de forma diferente e isolada por aquele sem tempo que o ousar decifrar.   

Por: Rubem de Souza A. Neto

quinta-feira, 29 de março de 2012

Horizontes e Fronteiras são iguais.

  Quero uma chave para abrir a porta, quero uma chance de tentar viver sem lamentar. Eu sei que o mundo me amedrontou e eu sei que pequei por hesitar, mas ainda sim poderia ser diferente, não um final diferente, mas um meio, meio termo.  Gostaria de materializar os pensamentos da minha cabeça, gostaria de poder cumprir as promessas que fiz, e me sentir orgulhoso por assim ser.

  Quero um momento de chuva intensa e restauradora. Águas límpidas que correm por entre as ramificações da minha alma, pois nem as coisas de que eu mais gosto conseguem me trazer alegria e nada do que me dizem me faz compreender esse dia. O meu amigo Fagner me disse que eu ainda sou bem moço para tanta tristeza, me disse para deixar de coisa e cuidar da vida, do contrário haveria a morte, ou coisa parecida. O problema é que ele esqueceu do som da melodia, ela reflete apenas melancolia, hipocrisia.

  Como poderia eu então não lamentar minhas falhas, como poderia eu não me espelhar sem sucesso nos meus amigos? Pobre verdade, é aquela certeira que você sabe que sairá do seu amigo, aquela palavra que soa como bálsamo de cura, temporariamente e paliativamente esquecível no exato momento em que fechamos a porta. Quando novamente estamos sós com nossos pensamentos frustrantes, o ululante lobo de face escura que se alimenta do nosso coração e que sem querer nos faz parecer diferentes, tão iguais, ou seriam mortais? E as nossas mulheres queridos amigos? Elas, que tentam nos entender sem sucesso, mágoas lançadas como flechas repartem nossas camas e tentamos de toda maneira nos guardar, como velhos tolos e egoístas fingimos ter a força que não dispomos  e a velha dor doida, sempre volta para ficar e incomodar.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Orcs.

Sociedade orc.
No convívio entre orcs a hierarquia é importante para manter a mínima ordem, mas entre eles não existem profissões ou postos mais ou menos dignos, tudo o que esta a baixo do chefe de guerra é igualitariamente tratado com o mesmo valor. Geralmente buscando enaltecer e dar continuidade as tradições familiares dos seus pais, os orcs mais jovens escolhem a mesma profissão e buscam alcançar o mesmo posto dos seus, mantendo assim uma continuidade e aprimoramento do conhecimento, que depois de algumas gerações é passado quase que instintivamente aos descendentes. Caberá sempre ao chefe de guerra delegar as tarefas aos seus subordinados, essas tarefas são levadas pelos “portadores da voz” que são os orcs mais velhos e sábios da horda, que tem a função de passar a vontade do chefe guerreiro para que seja cumprida.  Ao contrário do que se pensava esses orcs anciões não são chamados de portadores da voz por conduzir a vontade do chefe guerreiro aos outros orcs, mas sim por serem grandes xamãs em contato direto com o mundo espiritual, traduzindo a voz dos espíritos da terra e do fogo ancestral.
Os orcs xamãs são temidos pela sua capacidade de controlar bestas selvagens e manipular o fogo com a brutalidade de uma tempestade ou o poder curativo da terra. O chefe guerreiro é a figura central de uma horda de orcs, mas indiretamente são os xamãs quem controlam a impulsividade do chefe guerreiro através de conselhos e consultando os espíritos antes de um ataque. Para uma horda é sinal de mal presságio se um chefe guerreiro não escuta os espíritos e seus conselhos, por isso, um chefe guerreiro experiente sabe que precisa do consentimento dos seus xamãs se quiser realizar um ataque explorando a moral elevada das suas tropas. Recentemente um fato no mínimo inusitado salvou uma cidade élfica da devastação. Uma horda com quase cinco mil orcs recuou de uma vitoria certa ao perceber que seu chefe guerreiro, não escutando os conselhos dos espíritos, ordenou um ataque direto assim que avistou a cidade de Thal-vassar, onde os espíritos, através dos xamãs haviam dado o aviso de que a horda só deveria atacar ao amanhecer do terceiro dia de cerco. Arrematado por uma forte diarréia o chefe guerreiro tombou de febre, não sabendo ao certo se aquilo estava acontecendo por castigo dos espíritos ou pela carne de porco estragada, o chefe guerreiro ordenou a retirada do campo de batalha as suas tropas que obedeceram sem questionar, a cidade havia se salvado da destruição por um triz, e doze horas depois o chefe guerreiro Krokhar fora despedaçado pela horda que em seguida se fragmentou, debandando para floresta.

Por: Rubem de Souza Almeida Neto.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O bairro da Torre.

A Rua Real da Torre
Que mistérios ocultas
Nos chalés mal-assombrados
Que os fantasmas alugais?    

     
Distribuídas por sesmarias, as terras do atual bairro da Torre ficaram abandonadas até os fins do século XVI, quando foram adquiridas por um rico colono português Marcos André, que ali fundou um engenho de açúcar, movido a animais, que passou a ser conhecido como engenho de Marcos André.
Em 1663, os holandeses apossaram-se do engenho de Marcos André, onde construíram uma grande fortaleza, capaz de atacar a artilharia do forte Real do Bom Jesus.
Com a derrota definitiva dos invasores em 1654, o então proprietário, capitão Antonio Borges Uchoa, descendente de Marcos André, restaurou o engenho, em 1655, e para melhorar a comunicação com suas terras, mandou construir uma ponte sobre o rio Capibaribe, na altura da foz do rio Parnamirim, ligando-as ao local chamado sítio Guardez, que depois da construção da ponte ficou conhecido como Ponte d`Uchoa, denominação que se conserva até hoje.
O engenho permaneceu como propriedade dos descendentes de Marcos André até 1715, quando então o seu dono Cristóvão de Holanda Cavalcanti, casado com uma Borges Uchoa, trocou-o pelo engenho Moreno, em Jaboatão, passando assim a pertencer à família Campelo, com a qual ficou até a sua extinção.
A denominação Torre provém da antiga capela do engenho, que manteve a primitiva invocação de Nossa Senhora do Rosário, tornando-se posteriormente a matriz da Paróquia. Foi reconstruída em 1781 e, em 1867, passou por uma nova e completa reforma. Em 1912, a então proprietária Laura Barreto Campelo, fez uma doação pública ao cabido de Olinda e Recife, do edifício da capela e algumas terras próximas, com a condição de que fosse a igreja-matriz do subúrbio, sob a mesma invocação de Nossa Senhora do Rosário.
A devoção por Santa Luzia, porém, cuja imagem centenária faz parte do patrimônio da matriz, fez com que ela seja hoje mais conhecida como Igreja de Santa Luzia, absorvendo sua invocação real de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Pereira da Costa, nas primeiras décadas do século XX a povoação era toda cortada de extensas e largas ruas, muito bem alinhadas, de boa casaria em geral, com elegantes prédios e grandes sítios, e não pequena população, notando-se ainda os seus estabelecimentos industriais, como fábricas de tecidos e de fósforos, usina de açúcar e destilação de álcool, olarias mecânicas e outras que ainda seguem o sistema da antiga rotina. É iluminada a gás, tem boa viação pública, tanto terrestre como fluvial, e uma linha de bondes elétricos.
Em 1884, foi instalado no local o Cotonifício da Torre, sofrendo o bairro grande influência dessa indústria têxtil, com grande movimentação de operários e o apito da fábrica que era ouvido também nos bairros adjacentes.
Por volta de 1900, foi instalada no bairro uma fábrica de aniagem (sacos de estopa), por Francisco Sales Teixeira, que também construiu próximo um casarão para sua residência e uma vila operária. Visando dar maior movimentação e dinamismo ao local, construiu ainda, por volta de 1910, entre o casarão e a vila, o Cine Teatro Modelo. A vila, com suas casas de taipa, meia parede, porta e janela, ficava situada na Rua Vitoriano Palhares. O casarão não mais existe, porém ficava localizado no número 1472 da Rua Real da Torre. No local da antiga fábrica encontra-se hoje o supermercado Carrefour.
Na década de 1930, foi inaugurado na rua Visconde de Irajá, o Cine Torre que teve dias de grande movimentação até os fins da década de 60, quando os cinemas de bairros foram sendo desativados. Hoje, no local, encontra-se um prédio residencial chamado Edifício Cine Torre.
Próximo à Praça da Torre, atualmente denominada Professor Barreto Campelo, um dos ilustres moradores do bairro, existia o chamado Campo do Arte, um famoso campo de futebol para peladas suburbanas, do Arte Clube da Torre. Atualmente, a área do campo e suas cercanias abrigam a vila de Santa Luzia.
Em dezembro, acontece no bairro a festa de Santa Luzia, um importante evento popular, com comidas típicas, pastoril e as novenas da Matriz, realizada na atual Praça Professor Barreto Campelo. Houve época em que a rua Visconde de Irajá ficava toda iluminada até a Praça.
Na rua Regueira Costa, na área onde hoje se encontra o colégio estadual Martins Junior, havia um campo aberto onde existia uma vacaria que abastecia, com leite fresco, toda redondeza.


Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Torre (bairro, Recife). Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: 06  de Abril de 2011.

Fábrica Capibaribe.

Hoje me lembrei dos muitos momentos vividos, senti saudade de uma época em que só pensamos em saber como seremos amanhã. Senti falta da minha infância e é engraçado como desejamos tanto ser adultos e quando chegamos à idade adulta, nós nos arrependemos de não poder ter esperado mais, muito mais. Lembrei-me das sextas feiras de noite, brincando na frente de uma velha fábrica que tinha na rua da minha casa, engraçado como às vinte horas da noite já parecia tão tarde para mim, quando ficávamos além desse tempo,até o cheiro da nossa rua mudava, parecia que tínhamos entrado em outro universo, mais silencioso, mais nosso.
Ao fechar os olhos por apenas alguns segundos, eu consigo ouvir a batida da chuteira na bola e o som das vozes ecoando no velho campo de futebol Capibaribe, sem me esforçar muito sou capaz de sentir o cheiro do rio que passava ao lado do campo. Ele se perdia na escuridão dos manguezais, onde nem as luzes dos refletores conseguiam penetrar, pelas muitas histórias que ouvíamos naquela época, aquele lugar era a fonte de nossos medos mais profundos, nós perguntávamos o que sairia dali durante a madrugada e o que poderia nos acontecer se nos arriscássemos mais adentro de suas margens sombrias. Existia sim a criminalidade, mas não como hoje em dia, naquela época ao invés de armas e drogas, nós temíamos papa-figos, velhos do saco e fantasmas. As crianças todas saiam, como se soubessem instintivamente onde cada um estaria, indo na casa dos que ainda não puderam se juntar ao grupo, nós víamos cada esquina, cada árvore e cada muro como um obstáculo a ser superado, uma aventura.
A rua que hoje parece tão pequena era uma arena gigantesca, palco de partidas épicas de futebol, queimado e barra bandeira. Dividíamos-nos em grupos para brincar de policia e ladrão, enfrentávamos monstros imaginários embaixo de uma gigantesca árvore de fruta-pão que era local de pasto para algumas vacas e cabras, que o dono da fábrica criava naqueles tempos. Como todo e qualquer bairro daquela época, no nosso também vivia uma bruxa perigosa, acreditávamos que ela dedicava suas noites na produção de feitiços e conjurações malignas, pobre vizinha. E hoje o que eu encontrei me deixou mais triste, uma fotografia da antiga casa do meu avô, lembrei de tudo entre nós, nossos caminhos divididos, aquela pequena casa colada com a Fábrica Capibaribe já foi o palco de muitos momentos, alguns tristes e outros felizes. Sinto falta de não poder olhar para as estrelas em busca de discos voadores, sinto saudades dos verdadeiros amigos que tive, eu sei que vocês levaram um pedacinho meu com vocês e eu trago parte de todos vocês comigo. Um dia meus amigos, nós iremos nos reunir novamente em baixo daquele pé de jambo, como sempre fazíamos, em um circulo, sem melhores ou piores, sem riquezas, sem cores, sem dores, e sem mentira, ali, naquele momento, éramos apenas, nós.

Por: Rubem de Souza Almeida Neto.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Bela flor.


O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!

Florbela Espanca