quarta-feira, 6 de abril de 2011

O bairro da Torre.

A Rua Real da Torre
Que mistérios ocultas
Nos chalés mal-assombrados
Que os fantasmas alugais?    

     
Distribuídas por sesmarias, as terras do atual bairro da Torre ficaram abandonadas até os fins do século XVI, quando foram adquiridas por um rico colono português Marcos André, que ali fundou um engenho de açúcar, movido a animais, que passou a ser conhecido como engenho de Marcos André.
Em 1663, os holandeses apossaram-se do engenho de Marcos André, onde construíram uma grande fortaleza, capaz de atacar a artilharia do forte Real do Bom Jesus.
Com a derrota definitiva dos invasores em 1654, o então proprietário, capitão Antonio Borges Uchoa, descendente de Marcos André, restaurou o engenho, em 1655, e para melhorar a comunicação com suas terras, mandou construir uma ponte sobre o rio Capibaribe, na altura da foz do rio Parnamirim, ligando-as ao local chamado sítio Guardez, que depois da construção da ponte ficou conhecido como Ponte d`Uchoa, denominação que se conserva até hoje.
O engenho permaneceu como propriedade dos descendentes de Marcos André até 1715, quando então o seu dono Cristóvão de Holanda Cavalcanti, casado com uma Borges Uchoa, trocou-o pelo engenho Moreno, em Jaboatão, passando assim a pertencer à família Campelo, com a qual ficou até a sua extinção.
A denominação Torre provém da antiga capela do engenho, que manteve a primitiva invocação de Nossa Senhora do Rosário, tornando-se posteriormente a matriz da Paróquia. Foi reconstruída em 1781 e, em 1867, passou por uma nova e completa reforma. Em 1912, a então proprietária Laura Barreto Campelo, fez uma doação pública ao cabido de Olinda e Recife, do edifício da capela e algumas terras próximas, com a condição de que fosse a igreja-matriz do subúrbio, sob a mesma invocação de Nossa Senhora do Rosário.
A devoção por Santa Luzia, porém, cuja imagem centenária faz parte do patrimônio da matriz, fez com que ela seja hoje mais conhecida como Igreja de Santa Luzia, absorvendo sua invocação real de Nossa Senhora do Rosário.
Segundo Pereira da Costa, nas primeiras décadas do século XX a povoação era toda cortada de extensas e largas ruas, muito bem alinhadas, de boa casaria em geral, com elegantes prédios e grandes sítios, e não pequena população, notando-se ainda os seus estabelecimentos industriais, como fábricas de tecidos e de fósforos, usina de açúcar e destilação de álcool, olarias mecânicas e outras que ainda seguem o sistema da antiga rotina. É iluminada a gás, tem boa viação pública, tanto terrestre como fluvial, e uma linha de bondes elétricos.
Em 1884, foi instalado no local o Cotonifício da Torre, sofrendo o bairro grande influência dessa indústria têxtil, com grande movimentação de operários e o apito da fábrica que era ouvido também nos bairros adjacentes.
Por volta de 1900, foi instalada no bairro uma fábrica de aniagem (sacos de estopa), por Francisco Sales Teixeira, que também construiu próximo um casarão para sua residência e uma vila operária. Visando dar maior movimentação e dinamismo ao local, construiu ainda, por volta de 1910, entre o casarão e a vila, o Cine Teatro Modelo. A vila, com suas casas de taipa, meia parede, porta e janela, ficava situada na Rua Vitoriano Palhares. O casarão não mais existe, porém ficava localizado no número 1472 da Rua Real da Torre. No local da antiga fábrica encontra-se hoje o supermercado Carrefour.
Na década de 1930, foi inaugurado na rua Visconde de Irajá, o Cine Torre que teve dias de grande movimentação até os fins da década de 60, quando os cinemas de bairros foram sendo desativados. Hoje, no local, encontra-se um prédio residencial chamado Edifício Cine Torre.
Próximo à Praça da Torre, atualmente denominada Professor Barreto Campelo, um dos ilustres moradores do bairro, existia o chamado Campo do Arte, um famoso campo de futebol para peladas suburbanas, do Arte Clube da Torre. Atualmente, a área do campo e suas cercanias abrigam a vila de Santa Luzia.
Em dezembro, acontece no bairro a festa de Santa Luzia, um importante evento popular, com comidas típicas, pastoril e as novenas da Matriz, realizada na atual Praça Professor Barreto Campelo. Houve época em que a rua Visconde de Irajá ficava toda iluminada até a Praça.
Na rua Regueira Costa, na área onde hoje se encontra o colégio estadual Martins Junior, havia um campo aberto onde existia uma vacaria que abastecia, com leite fresco, toda redondeza.


Fonte: VAINSENCHER, Semira Adler. Torre (bairro, Recife). Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://www.fundaj.gov.br>. Acesso em: 06  de Abril de 2011.

Fábrica Capibaribe.

Hoje me lembrei dos muitos momentos vividos, senti saudade de uma época em que só pensamos em saber como seremos amanhã. Senti falta da minha infância e é engraçado como desejamos tanto ser adultos e quando chegamos à idade adulta, nós nos arrependemos de não poder ter esperado mais, muito mais. Lembrei-me das sextas feiras de noite, brincando na frente de uma velha fábrica que tinha na rua da minha casa, engraçado como às vinte horas da noite já parecia tão tarde para mim, quando ficávamos além desse tempo,até o cheiro da nossa rua mudava, parecia que tínhamos entrado em outro universo, mais silencioso, mais nosso.
Ao fechar os olhos por apenas alguns segundos, eu consigo ouvir a batida da chuteira na bola e o som das vozes ecoando no velho campo de futebol Capibaribe, sem me esforçar muito sou capaz de sentir o cheiro do rio que passava ao lado do campo. Ele se perdia na escuridão dos manguezais, onde nem as luzes dos refletores conseguiam penetrar, pelas muitas histórias que ouvíamos naquela época, aquele lugar era a fonte de nossos medos mais profundos, nós perguntávamos o que sairia dali durante a madrugada e o que poderia nos acontecer se nos arriscássemos mais adentro de suas margens sombrias. Existia sim a criminalidade, mas não como hoje em dia, naquela época ao invés de armas e drogas, nós temíamos papa-figos, velhos do saco e fantasmas. As crianças todas saiam, como se soubessem instintivamente onde cada um estaria, indo na casa dos que ainda não puderam se juntar ao grupo, nós víamos cada esquina, cada árvore e cada muro como um obstáculo a ser superado, uma aventura.
A rua que hoje parece tão pequena era uma arena gigantesca, palco de partidas épicas de futebol, queimado e barra bandeira. Dividíamos-nos em grupos para brincar de policia e ladrão, enfrentávamos monstros imaginários embaixo de uma gigantesca árvore de fruta-pão que era local de pasto para algumas vacas e cabras, que o dono da fábrica criava naqueles tempos. Como todo e qualquer bairro daquela época, no nosso também vivia uma bruxa perigosa, acreditávamos que ela dedicava suas noites na produção de feitiços e conjurações malignas, pobre vizinha. E hoje o que eu encontrei me deixou mais triste, uma fotografia da antiga casa do meu avô, lembrei de tudo entre nós, nossos caminhos divididos, aquela pequena casa colada com a Fábrica Capibaribe já foi o palco de muitos momentos, alguns tristes e outros felizes. Sinto falta de não poder olhar para as estrelas em busca de discos voadores, sinto saudades dos verdadeiros amigos que tive, eu sei que vocês levaram um pedacinho meu com vocês e eu trago parte de todos vocês comigo. Um dia meus amigos, nós iremos nos reunir novamente em baixo daquele pé de jambo, como sempre fazíamos, em um circulo, sem melhores ou piores, sem riquezas, sem cores, sem dores, e sem mentira, ali, naquele momento, éramos apenas, nós.

Por: Rubem de Souza Almeida Neto.