quarta-feira, 6 de abril de 2011

Fábrica Capibaribe.

Hoje me lembrei dos muitos momentos vividos, senti saudade de uma época em que só pensamos em saber como seremos amanhã. Senti falta da minha infância e é engraçado como desejamos tanto ser adultos e quando chegamos à idade adulta, nós nos arrependemos de não poder ter esperado mais, muito mais. Lembrei-me das sextas feiras de noite, brincando na frente de uma velha fábrica que tinha na rua da minha casa, engraçado como às vinte horas da noite já parecia tão tarde para mim, quando ficávamos além desse tempo,até o cheiro da nossa rua mudava, parecia que tínhamos entrado em outro universo, mais silencioso, mais nosso.
Ao fechar os olhos por apenas alguns segundos, eu consigo ouvir a batida da chuteira na bola e o som das vozes ecoando no velho campo de futebol Capibaribe, sem me esforçar muito sou capaz de sentir o cheiro do rio que passava ao lado do campo. Ele se perdia na escuridão dos manguezais, onde nem as luzes dos refletores conseguiam penetrar, pelas muitas histórias que ouvíamos naquela época, aquele lugar era a fonte de nossos medos mais profundos, nós perguntávamos o que sairia dali durante a madrugada e o que poderia nos acontecer se nos arriscássemos mais adentro de suas margens sombrias. Existia sim a criminalidade, mas não como hoje em dia, naquela época ao invés de armas e drogas, nós temíamos papa-figos, velhos do saco e fantasmas. As crianças todas saiam, como se soubessem instintivamente onde cada um estaria, indo na casa dos que ainda não puderam se juntar ao grupo, nós víamos cada esquina, cada árvore e cada muro como um obstáculo a ser superado, uma aventura.
A rua que hoje parece tão pequena era uma arena gigantesca, palco de partidas épicas de futebol, queimado e barra bandeira. Dividíamos-nos em grupos para brincar de policia e ladrão, enfrentávamos monstros imaginários embaixo de uma gigantesca árvore de fruta-pão que era local de pasto para algumas vacas e cabras, que o dono da fábrica criava naqueles tempos. Como todo e qualquer bairro daquela época, no nosso também vivia uma bruxa perigosa, acreditávamos que ela dedicava suas noites na produção de feitiços e conjurações malignas, pobre vizinha. E hoje o que eu encontrei me deixou mais triste, uma fotografia da antiga casa do meu avô, lembrei de tudo entre nós, nossos caminhos divididos, aquela pequena casa colada com a Fábrica Capibaribe já foi o palco de muitos momentos, alguns tristes e outros felizes. Sinto falta de não poder olhar para as estrelas em busca de discos voadores, sinto saudades dos verdadeiros amigos que tive, eu sei que vocês levaram um pedacinho meu com vocês e eu trago parte de todos vocês comigo. Um dia meus amigos, nós iremos nos reunir novamente em baixo daquele pé de jambo, como sempre fazíamos, em um circulo, sem melhores ou piores, sem riquezas, sem cores, sem dores, e sem mentira, ali, naquele momento, éramos apenas, nós.

Por: Rubem de Souza Almeida Neto.

7 comentários:

  1. Show de bola... legal lembrar dakela epoca! So vou logo dizendo q eu n tinha medo de fantasmas! hehehhehehehehe! Quem sabe um dia voltaremos a nos reunir msm... pelo menos um pedaço do grupo!!! Williamns Tadeu.

    ResponderExcluir
  2. Nossa!! Fiquei emocionada agora! Quanta lembrança...sinto saudades dessa época, não tínhamos nenhuma preocupação. Só vc, meu querido amigo Rubinho, para descrever os nossos momentos. Espero mesmo que consigamos nos reunir e matar essa saudade. Beijooooossss!! Isla Carliny

    ResponderExcluir
  3. Amei! Eu não poderia empregar as palavras de melhor maneira... Às vezes também me pego lembrando daquela época maravilhosa em que nossa única preocupação eram os estudos e a hora dos encontros com a turma. Lembro-me das peças que inventamos, das coreografias, da rua bloqueada para brincarmos de barra-bandeira ou queimada, das subidas no jambeiro, dos fantasmas, dos discos voadores, da máquina do tempo, das histórias... Enfim, da imaginação e da inocência infantil. Obrigada por trazer todos esses momentos de volta. Milhões de beijos

    ResponderExcluir
  4. Cara, cada instante conheço mais vc. E vejo o quanto somos parecidos. Li-me em cada palavra sua. Vi que sua infância foi tão maravilhosa quanto a minha. Isso sempre me remete ao filme "conta comigo". Em síntese - "sem melhores ou piores, sem riquezas, sem cores, sem dores, e sem mentira, ali, naquele momento, éramos apenas, nós."

    ResponderExcluir